A carreira mais difícil de Pilar Hidalgo

A triatleta Pilar Hidalgo teve que abandonar o esporte de alto nível devido a alguns problemas cardíacos graves. Agora em seu site ele nos conta que tem uma doença grave chamada Transtorno Alimentar Não Especificado.

Este é o artigo que Pilar escreveu:

Foi aqui que meu sofrimento acabou, 16 anos são suficientes. Tantos anos tropeçando, me deixando levar por tudo e por todos e acabando com minha vida e felicidade. E a vergonha acabou... por pensar no que as pessoas podem acreditar (pessoas que ignoram um problema ou não têm conhecimento desta doença). 16 anos sofrendo de uma doença “muito grave e grave” chamada Transtorno Alimentar Inespecífico, nem bulimia nem anorexia. Simplesmente aos 16 anos, por rejeição de um menino e por não tolerar aquela grande frustração vivida, tudo começou.




A partir daí me refugiei na comida de todo sentimento de decepção, de frustração, de raiva, de querer agradar a todos, de querer agradar a todos no primeiro minuto... Comia insaciavelmente (assim como fui estúpido em competir ou dar up).tudo, era assim que era a compulsão alimentar...) e vomitar para limpar aquela sensação de estar mal, frustração, decepção... etc, esvaziar essa sensação. Nunca em 16 anos vomitei uma refeição “normal”, como bem e em quantidade, mas pergunte aos simpáticos cozinheiros do Blume… Foram 16 anos totalmente mecanizados, passando por milhares de fases diferentes da doença. Ninguém imagina como é um episódio desses, sangrar, me machucar, pagar com quem mais me ama, culpar quem mais me ama, danos circulatórios, digestivos, hormonais... mas o mais grave são os danos psicológicos.

Passando por mais de oito psiquiatras, psicólogos, terapeutas... tropeçando e perdendo a saúde, ganhando um desfibrilador no coração... e as consequências que advêm de todos os danos e abusos físicos e psicológicos que estou causando a mim mesmo. Talvez tanta força tenha me prejudicado em prolongar isso por tanto tempo, sempre me vendo forte e autossuficiente para tudo e claro, em acreditar que posso superar isso. Diferentes terapeutas até este ano, Juanjo Bringué me ajudou a tomar essa difícil decisão. Entrar e me isolar de tudo e de todos em Itacat (não sei por quanto tempo). Tudo o que conquistei foi devido ao meu caráter, impulsividade, queria alcançar todos os meus propósitos e objetivos a todo custo, a qualquer preço.


Desde que nasci com parada cardíaca precisei de mais atenção, carinho e proteção do que o normal, tem sido essa superproteção que está me arrastando por tudo isso. Não tolerar frustração, alguém me dizendo não, alguém me fazendo cara feia (por quê?), alguém se sentindo mal por algo que eu disse, o que essa pessoa vai pensar de mim... (leia o pensamento das pessoas, quando hoje, eu percebi que nem eu nem ninguém podemos adivinhar os pensamentos de outras pessoas).

São 16 anos de dor e sofrimento que só eu e, em parte, Sebastien e Juanjo sabemos o quanto sofri e sofro. Sempre expressei alegria e felicidade porque é o meu caráter, nunca falei sobre isso ou como me sentia com ninguém. Guardei tudo e sofri... Lembro que há quatro anos, quando contei isso para meu melhor amigo Raul, ele não acreditou. "Como? Impossível? Você está sempre rindo, feliz, consciente de tudo e de todos”... mas esse foi o meu grande erro, não cuidar de mim mesmo ou talvez ver realmente o que estava acontecendo comigo.

Muitas coisas foram vividas em 16 anos, muitas, e até hoje me pergunto como ainda estou aqui neste mundo com todos os danos inimagináveis ​​que estou causando a mim mesmo. Certamente foi por isso que no dia 6 de setembro de 2009 os cardiologistas me disseram: “Você tem muita força… por isso aguentou essa taquicardia por tanto tempo”. Mas é isso! Minhas forças acabaram e quero, aos 31 anos, viver e aproveitar cada dia como mereço. Entro semana que vem, não sei quando vou sair, ficarei afastado de tudo, pelo menos dois meses, e saio daquilo que mais me entusiasma e mais gratificante agora (espero temporariamente) treinando no Tri Prat.

O que eu não vou deixar será MAKO, Sebastien vai me ajudar enquanto durar a internação. E aí, se Deus quiser, com a ajuda do Itacat e minha vontade de me curar, voltarei com tudo (se eu já estava sorrindo antes, imagina se eu sair bem dessa...). Esse poço, que venho cobrindo de corridas, a gente treina, ora agrada esse, ora esse. Tenho dúvidas de que depois de 16 anos consiga reaprender a administrar minhas emoções de outra forma, mas não tenho escolha, é agora ou nunca. Eu poderia estar escrevendo páginas e mais páginas de tudo que vivi e sofri, de cada fase da minha doença.

Simplesmente porque minha vida corre perigo, nem passar pela UTI e causar uma cicatriz no ventrículo direito do coração, junto com todas as alterações metabólicas, psicológicas, digestivas e neuronais que esta grave doença (que poucos entendem), tem válido dizer: “Pili, pare!”, até hoje. Tudo isso soa como uma doença do vício, e por isso, em 16 anos administrando toda a minha vida assim, transformei isso em um vício. Por isso quero ter a oportunidade de dizer às meninas (que conheço e já vi no meu esporte com o mesmo problema) e a quem lê isso, que não pensem que é bobagem e deixem tudo, tudo para resolver, porque vai merecer a dor.

Não tenho a confiança que tive em tantos anos, de que sairia sozinho. Sei que não será fácil, mas espero poder sair vitorioso na corrida mais difícil que finalmente enfrentarei. E colocar todas as minhas forças, que estão diminuindo cada vez mais, nisso. Espero poder em breve colocar minha vida, minhas coisas, meus sonhos de volta nos trilhos e poder te ver (embora provavelmente com a vergonha, que tive todos esses anos para contar sobre isso). Quero muito escrever: estou curado... não como os seis meses depois do susto no coração, que foi apenas o medo que interrompeu essa espiral, quando pensei que já estava curado.

Espero que com a ajuda dos profissionais que vão levar a mim e a minha grande família eu acabe superando essa doença complicada e difícil. Amigos, colegas, conhecidos, quero aproveitar como todos merecemos e não acabar com a minha vida e a dos meus entes queridos, com tanto sofrimento, que ninguém pode imaginar.

Vejo você em breve, eu espero…

Pilar Hidalgo é uma ex-triatleta profissional
www.pilarhidalgo.com

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